A EXPERIÊNCIA NA VELHICE

A juventude é o tempo próprio para se aprender a sabedoria; a velhice é o tempo próprio para a praticar. A experiência instrue sempre, mas não é útil senão durante o espaço de tempo que temos à nossa frente. É no momento em que se vai morrer que se deve aprender como se deveria ter vivido?

De que nos servem os conhecimentos que, tão tarde e tão dolorosamente, adquirimos sobre o nosso destino e sobre as paixões alheias de que ele é o fruto? Não aprendemos a conhecer os homens senão para melhor sentir a desgraça em que nos mergulharam e esse conhecimento, embora revelasse todas as suas armadilhas, não nos permitiu evitar nenhuma delas.

Ao nascermos, iniciamos uma luta que só termina com a morte. De que serve aprender a conduzir melhor o carro quando se está no fim da estrada? Então, já não resta senão pensar em como sair dele. O estudo de um velho, se é que ainda tem algo a estudar, consiste unicamente em aprender a morrer, e é precisamente o que menos se faz na nossa idade, em que se pensa em tudo menos nisso.

Os velhos estão mais agarrados à vida do que as crianças e saem dela com mais má vontade do que os jovens. É que, como todos os seus trabalhos se destinaram a essa mesma vida, ao chegarem ao fim, vêem que os seus esforços foram inúteis. Todos os seus cuidados, todos os seus bens, todos os frutos das suas laboriosas vigílias, tudo abandonam quando partem. Em vida, não pensaram em adquirir algo que pudessem levar consigo quando morressem.

(Jean-Jacques Rousseau, filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata suíço)



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